Fotos: Ronaldo Santos
O historiador cachoeirense Nivaldo Pacchiella se diz apaixonado por arte tumular, bem como por toda a história por trás dos jazigos.
“Um túmulo conta muito da vida pessoal daqueles que foram sepultados, como condição social, religiosidade, condição econômica, e importância dentro do contexto social e histórico da cidade”, observa.
Relevância histórica e cultural que o motivou, há quase dez anos, a desenvolver um trabalho de pesquisa no cemitério municipal do Coronel Borges.
Inaugurado no século XIX e local de repouso eterno de alguns dos principais personagens locais, Pacchiella denuncia, contudo, que o cemitério público está sendo depredado por vândalos e larápios.
Furtos e depredações são constantes, e um recente caso, em específico, nas imediações e no jazigo perpétuo do coronel Francisco de Souza Monteiro, pai de Jerônimo e Bernardino Monteiro, o levou a procurar a Polícia Civil para registrar boletim de ocorrência.
“O enorme anjo de mármore foi furtado do túmulo ao lado, arrebentaram a lápide e o carregaram. E a grade em bronze, estilo Art nouveau, muito valiosa, arrancada”, expõe.
Francisco de Souza Monteiro, revela Pacchiella, era dono da Fazenda Monte Líbano e do terreno, onde havia a capela particular de sua família, no bairro Independência, próximo ao cemitério, que foi doado para ser construída a primeira igreja de Cachoeiro, a Matriz Nosso Senhor dos Passos, conhecida como “Matriz Velha”.
Quanto ao problema do vandalismo, o pesquisador pondera que sempre existiu nos cemitérios. O surgimento das drogas, contudo, provocou um aumento desse tipo de crime, pois muitos usuários passaram a fazer os cemitérios de moradia.
Museu a céu aberto
Nivaldo Pacchiella considera o cemitério municipal um verdadeiro museu a céu aberto, que explica a comunidade local melhor do que qualquer outro aparelho público.
Como pesquisador, ele diz que não pode deixar a história tumular de muitas figuras importantes de Cachoeiro cair no esquecimento.
Abnegado, faz a limpeza das lápides, e remove areia, restos de concreto, tijolos, faz o escovamento, para melhorar as inscrições das lápides, para facilitar a utilização do papel manteiga e giz de cera, assim obtendo uma melhor qualidade no papel em suas reproduções para a catalogação.
“Muitos estão cobertos de limo, o que dificulta a leitura da lápide. Há um processo inicial de lavagem do túmulo, e depois começo as etapas citadas”, explica.
Arte
Até a década de 1950 as famílias abastadas costumavam investir muitos recursos nos túmulos. Mandavam construir verdadeiros templos, contratavam os melhores artistas para fazer obras baseadas nas figuras religiosas.
Pacchiella cita alguns dos túmulos e mausoléus no cemitério do Coronel Borges de maior destaque na sua opinião:
Jazigos perpétuos de Samuel Levy, Bernardo Horta de Araújo, além do já citado Coronel Francisco de Souza Monteiro.
Há ainda muitos outros de figuras importantes da história local, como o do primeiro vigário, o da primeira professora de Cachoeiro, o do primeiro cobrador de impostos, primeiro prefeito, o jazigo do famoso Coronel Borges, do primeiro historiador de Cachoeiro…
Solução
Questionado sobre uma solução para coibir a ação de vândalos e larápios, Nivaldo Pacchiella alega ter sido informado pessoalmente pelo prefeito Victor Coelho que há projeto para terceirizar a administração do cemitério municipal.
Instalação de videomonitoramento e ronda permanente da Guarda Civil Municipal estariam previstas.
“A partir das 17h, vira terra de ninguém. Antes, funcionários tomam conta”, observa o historiador, para concluir: “cemitério, para muitos, é sinônimo de medo. Para mim, é a última morada e fonte de pesquisas”.
Sem resposta
Perguntada pela reportagem do ES de FATO a respeito do projeto mencionado por Pacchiella, a administração municipal não havia respondido até a conclusão desta matéria.
original do Jornal Fato