Com o rápido crescimento das áreas urbanas, em um cenário global cada vez mais desafiador, surgem necessidades de lidar com os impactos ambientais e sociais nos planejamentos urbanos. Assim, nasce o conceito de “SmartCities” ou “Cidades inteligentes” que utilizam a tecnologia e a inovação para melhorar a qualidade de vida dos habitantes de forma inteligente, eficiente e sustentável.
Pode-se imaginar que o conceito de cidades inteligentes é muito distante, mas a tecnologia já está presente na rotina dos cidadãos e tem contribuído para a urbanização das cidades, especialmente com a ascensão da inteligência artificial (IA) nos últimos anos. A implementação do 5G e da Internet das Coisas (IoT) são exemplos que estão transformando as áreas de saúde, segurança, mobilidade, serviços e governança. No Brasil, a tendência de SmartCities nas governanças já está se consolidando e obtendo êxito em iniciativas públicas.
O relatório publicado pela ONU-Habitat em 2022 apontou que 68% da população mundial será urbana até 2050. Para entender o crescimento, as SmartCities se baseiam em estruturas de big data e data warehouse para que todas as informações produzidas na cidade sejam armazenadas. Isso inclui a implementação de tecnologias de IA que, além da aceleração do planejamento urbano, monitoram dados para prevenir, otimizar, melhorar e se adaptar a fluxos urbanos de mobilidade, clima e gestão de risco de desastres naturais.
O especialista em planejamento urbano e presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira, explica que a IA na arquitetura desempenha um papel importante na promoção da sustentabilidade em cidades inteligentes, incorporando soluções em energias renováveis, áreas verdes e reduzindo a impermeabilização do solo urbano. Pablo Lira destaca que para um desenvolvimento arquitetônico inteligente se faz necessário respeitar a sustentabilidade, inclusão e protagonismo comunitário em uma gestão inovadora.
“Os dados que a inteligência artificial contribuem no pensar de políticas públicas e da gestão das cidades do futuro. Pensar nisso, é pensar em planejamento urbano inteligente” – Pablo Lira
ES Inteligente
O Espírito Santo é um dos estados que se destaca no cenário de SmartCities. O Ranking ConnectedSmartCities (CSC) de 2023, que analisa diversos municípios brasileiros em desenvolvimento, apontou Vitória como a sétima cidade mais inteligente. Outras três cidades, Vila Velha (29°), Linhares (65°) e Serra (66°), figuram entre as 100 mais bem posicionadas do Brasil. Esse destaque se dá pelo Governo do Estado que tem investido nas demandas por desenvolvimento tecnológico e sustentável dos municípios capixabas.
Em 2021, foi lançado o programa ES Inteligente, uma parceria do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) e o Governo do Estado, para incentivo a projetos municipais de infraestrutura público-privada. O programa se baseia em cidades inteligentes para trazer investimentos iniciais em iluminação pública, Usina Solar Fotovoltaica (USF), infraestrutura de Telecomunicações e tecnologia. Ao todo, 23 municípios já aderiram ao programa e há resultados significativos a um custo zero para os municípios.
O especialista em tecnologia e gerente de Negócios do Bandes, Vilker Zucolotto, explica que a ideia do programa é trazer soluções tecnológicas e digitais para a infraestrutura dos serviços urbanos. Vilker Zucolotto afirma que os municípios se tornam cada vez mais conscientes de que é importante ter uma cidade inteligente. Ele finaliza dizendo que, com o uso de tecnologias avançadas, como a inteligência artificial, há uma tendência à incorporação do conceito em todos os setores, tornando as cidades mais acessíveis, evoluídas e seguras.
“As cidades inteligentes somente fazem sentido quando elas revertem benefícios amplos para a população e para a sociedade” -Vilker Zucolotto.
Mercado Inteligente
O mercado atual compreende o modelo de SmartCities cada vez mais como um negócio rentável e com potencial nos planejamentos urbanos das cidades. Dessa forma, surgem ideias inovadoras. É o caso da empresa Endelevo, cujo objetivo é apresentar soluções em construções sustentáveis para edificações energeticamente eficientes por meio de projetos de jardins verticais, reforma de fachadas e energia solar.
O engenheiro civil e fundador da Endelevo, João Vitor Freire, afirma que o mercado de SmartCities apresenta uma alta perspectiva de crescimento. No entanto, dependem de políticas públicas para a fomentação e a aceleração dessas ideias. Ele ainda relata que novas tecnologias podem ser implementadas com a inteligência artificial, mas o processo requer que os setores compreendam as cidades inteligentes como necessária e criem oportunidades para estabilizar o modelo para, assim, buscar novas oportunidades.
João Vitor Freire destaca que a ideia de regeneração do planeta por meio desses modelos inteligentes pode ser uma maneira de modificar a forma que se enxerga o ambiente das cidades, tornando-as uma extensão da própria casa. O fundador da Endelevo concluiu que isso requer uma mudança tanto na cultura de pensamento e de entendimento sobre o tema quanto de tecnologia para atender os desafios propostos pela mudança.
Texto: Ana Clara Bolzan e Bruno Caetano/ Edição: Bruno Caetano
fonte original do Montanhas Capixabas